Mudança para Lisboa

Por Léa Kogut

Mudança para Lisboa!

Em 17 de março desse ano eu e meu marido assinamos um novo contrato de aluguel para moradia em Lisboa – dois dias antes de ser decretado o Estado de Emergência em Portugal por conta da 1ª onda da pandemia.

Isso significava que não poderíamos trafegar normalmente nas ruas e os estabelecimentos comerciais (exceto supermercados) iriam estar fechados por tempo não especificado.

Logo após a assinatura, corremos a uma loja enorme de departamentos para comprar o básico para habitarmos na nova casa. Apesar de termos escolhido desde cama, mesa de jantar, etc., a loja não poderia nos entregar.

Pegamos, então, o essencial (colchão, 2 jogos de cama, 4 pratos, talheres e 3 panelas) que conseguiríamos levar em um taxi.

Cabe ressaltar que a casa anterior onde morávamos era mobiliada, portanto: não tínhamos utensílios ou quaisquer outros objetos essenciais para o funcionamento de uma habitação!

E mudamos, correndo, no dia anterior ao Decreto de Emergência - visto que, depois, poderíamos correr o risco de não conseguir realizar a mudança. Ao chegarmos na casa nova, apesar de linda, estava absolutamente nua...

E aí se deram os gestos mais impressionantes: os vizinhos, ao nos verem chegando, ofereceram pequenos objetos de uso domiciliar (frigideira, torradeira, etc.), até comida para nos acolher.

Um casal vizinho, especificamente, nos trouxe, além do calor das boas-vindas, cadeiras e mesa possíveis para fazermos uma refeição, apoio para colocarmos o computador, até um vaso de plantas para dar vida ao ambiente.

Esses atos nos fizeram perceber a alma do ser humano: prestativo, solícito e gentil. Nos trouxe segurança psicológica e uma sensação indescritível de pertencimento.

Essas pessoas, que na época eram ilustres desconhecidos, hoje são nossos parceiros de almoços aos domingos, de passeios nas redondezas e de cumplicidade de segredos que só compartilhamos com pessoas muito próximas. Eles se tornaram nossa família portuguesa.

Nunca nos pediram nada em troca, nunca me cobraram absolutamente nada.

Um relato de Lea Kogut para a série "Histórias que nos fizeram continuar".